Bom gosto musical pode existir em qualquer classe, cultura e lugar.
Sempre que se fala em música sofisticada quando se está fazendo uma curadoria musical me vem à mente um piano, um sax, um violino, um violoncelo, um jazz, blues, soul, bossa nova, uma música clássica, um eletrônico suave. O conceito de sofisticado na música é bastante restrito quando se pensa no público que ouviria e gostaria deste estilo. Portanto, fica bem mais difícil compôr um bom branding sonoro.
É aí que para equilibrar, entra o contemporâneo e entra um ouvido apurado capaz de conseguir relacionar a música certa ao local descrito pelo cliente.
Por muito tempo eu trabalhei em uma rádio voltada ao público de classe A.
Foram 10 anos ouvindo o que as pessoas que viajam pelo mundo inteiro com total liberdade geográfica e financeira gostam de ouvir. Essas pessoas possuem uma vasta bagagem cultural. Elas conhecem música de todos os países que percorreram, aumentam o leque de exigências em cada lugar que frequentam e se adaptam mais facilmente às coisas que se costuma chamar de bom gosto. Mas o que é o bom gosto na música?
Hoje eu considero bom gosto musical os instrumentos que me remetam a uma melodia agradável. O piano para mim seria um instrumento de bom gosto. Um piano bem tocado trazendo um ar contemporâneo é algo muito prazeroso para se ouvir e está sempre em primeiro lugar em minhas preferências musicais.
Ouvir Jamie Cullum, por exemplo, é mágico e mesmo sem nunca ter visitado os países em que ele se apresenta, acompanhar os acordes dos instrumentos utilizados em um show como no Palácio de Bleinheim, situado em Woodstock, Oxfordshire, na Inglaterra, a voz rasgada e a energia do cantor fazem com que eu sonhe em um dia assistir a uma apresentação dele ao vivo em um fim de tarde neste palácio. Eu queria muito estar lá!
Jamie Cullum é para mim a definição exata de música sofisticada e contemporânea.
Como pode isso? A música não me vende só o trabalho do cantor, me vende o país o local, os instrumentos, vende a ideia por completo. Me vende o jazz e eu acabo gostando de ouvir cada vez mais este estilo de música em vozes contemporâneas.
E conecto tudo isso a uma loja de jóias, a um restaurante, a um iate e uma mansão de frente para o mar.
Mas peraí, a gente está construindo aqui um 'mapa mental'. Sim, em planejamento estratégico para descobrir o DNA de uma empresa o mapa mental é uma ferramenta fundamental. Os mapas mentais são construídos em cima de uma ideia central e, a partir dela, ideias derivadas vão sendo conectadas. Não vamos colocar isso em gráficos, mas nos servirá para entender de onde vem este conceito de bom gosto, ok? Afinal, o bom gosto seria um direito único às pessoas com melhor poder aquisitivo?
Enquanto a gente pensa na resposta para esta pergunta vamos ouvir Michael Buble em uma versão de "Feeling Good" que considero de extremo bom gosto.
Vou dar a minha opinião com relação à pergunta acima. Não, o bom gosto não é um direito único das pessoas com poder aquisitivo e cultas. O bom gosto vem do meio em que você vive. Trata-se de uma influência cultural. Segundo o Neuromarketing, a culpa é dos tais neurônios espelho (que imitam o comportamento do outro como se estivessem eles próprios realizando uma ação). Então, se você convive muito tempo com pessoas que gostam deste estilo, automaticamente você absorverá este mesmo estilo para você e isso irá gerar o "bom gosto", é claro, se estiver relacionado às coisas que você entenda como de bom gosto.
Para resumir, te apresento o exemplo de Inna Modja. A vida desta cantora confirma um pouco do que digo aí acima. Inna é do Mali, pais africano, e já nasceu com um desafio: nunca ser ruim, este é o significado do seu nome em fula, língua falada na África Ocidental, 'ruim, não é bom'. Seus pais criaram sete filhas ouvindo Ray Charles, Ella Fitzgerald, Otis Redding, Sarah Vaughan e colocaram a menina aos seis anos de idade em aula de canto. Para os pais de INNA, com certeza, música de bom gosto era a que estes intérpretes tocavam e o destino da menina estaria traçado no significado do seu nome.
Não bastasse os pais, na adolescência Inna teve um vizinho que a influenciou bastante com seu grupo de swingers, bossa nova e jazz. Ele era simplesmente, Salif Keita, considerado a voz dourada da África. Inna estreou na banda de Salif. (nasceu mesmo com o bum bum pra lua esta Inna hein rs). Hoje aos 36 anos ela passeia por diversos gêneros como hard rock, pop e dance, ou seja, juntou tudo o que ouviu na música desde pequena e criou um novo estilo.
Ouça esta, é uma das que mais gosto. Se chama “Life” e é lógico que tocaria fácil em uma loja sofisticada e moderna.
Outro nome que eu incluiria em uma playlist moderna que entendo por bom gosto é
Paloma Faith, britânica de 38 anos. Cantora atriz e compositora. Eu gosto bastante da voz dela e a forma de se expressar no palco. Neste clipe fica ainda mais evidente o diferencial de uma cantora que também é atriz. Os shows sempre sairão do tradicional, se transformando em verdadeiros espetáculos musicais.
Dá uma olhadinha nesta interpretação de "Never tear us apart", sucesso da banda australiana INXS dos anos 80.
Dá até uma saudade de Amy Winehouse, que aliás, era uma das referências e inspirações de Paloma Faith.
Mas e a cantora britânica Dido que muitos falam “Daido” e que afinal de contas para mim não deixa de ser certo né gente, porque ela é britânica. Ninguém adivinharia que seu nome artístico foi inspirado em uma rainha cartaginense nascida antes de Cristo. O fato é que Dido tem uma voz linda e suas músicas em grande parte me parecem muito agradáveis de ouvir.
Eu poderia trazer mais e mais nomes que considero fáceis para compor uma playlist sofisticada e contemporânea, mas encerro dizendo que bom gosto musical na minha concepção deveria ser: ouvir o que não agride o ouvido.
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